Salão Abimovel

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Gerir é Criar
I

Autor: Laurent Lapierre
Fonte: Revista Amanhã



Está na hora de as escolas e MBAs
admitirem que gestão não é uma
disciplina exata e sim uma área de
conhecimento tão dinâmica quanto
o próprio ser humano.

Nos últimos vinte anos, os princípios e o vocabulário de gestão se infiltraram em quase todas as esferas da atividade humana. Hoje em dia, nós não administramos apenas nossos negócios, mas também nossas vidas e nossos relacionamentos. No espaço de algumas décadas, a gestão se tornou uma referência para quase todas as áreas da atividade humana. Muitas pessoas, sem notar, são impregnadas pelas últimas modas nesse campo – que, a propósito, são abundantes. O tempo inteiro, somos encorajados a tratar nossos colegas, chefes e até mesmo membros da família como “clientes” ou “parceiros”, cujas necessidades precisam ser atendidas. Qualquer pretexto vale para demonstrar nossa “liderança”, “espírito de competitividade” e “habilidades empreendedoras”.
Os modelos de gestão, sejam eles aplicados no ambiente corporativo ou no dia-a-dia das pessoas, sucedem-se com uma velocidade impressionante. Isso acontece, especial-mente, quando se trata de liderança – assunto muito em moda hoje em dia. Chegamos a um ponto em que é necessário recusar a sucessão interminável de modismos e resistir ao bombardeio de novos catequismos e noções pré-concebidas. Devemos, de uma vez por todas, destruir as amarras e abrir espaço para a originalidade e a criação.
Diversos modelos de gestão prometem produzir resultados num passe de mágica. Não espanta que muitos executivos se sintam atraídos por essas fantasias de auto-ajuda. Tampouco é de estranhar que os criadores desses modismos tenham lucro infindável com suas receitas encantadas. Mas a verdade é bem outra. Não se pode administrar e ter sucesso com um estalar de dedos. Gerir é uma tarefa difícil.
Isso acontece, antes de tudo, porque a administração empresarial não é uma ciência exata. Ao contrário da matemática e da biologia, por exemplo, a gestão carece de conceitos universais, que possam ser aplicados em qualquer ambiente. Tudo precisa ser colocado em seu devido contexto. Por isso, não existe uma única e milagrosa forma de gerir, nem um modelo infalível de organização e liderança. Portanto, não estaria exagerando quem dissesse: “Para o inferno com as teorias de gestão!” Devemos rejeitar todos os conceitos restritivos, que reduzem e simplificam a complexidades das organiza-ções e os mistérios do comportamento humano.
A teoria jamais deve ser considerada mais importante que a experiência. Hoje, a profissão de gestor muitas vezes é ensinada por pessoas que nunca a praticaram. O que pensariam cirurgiões, dentistas, enfermeiras, advogados, cantores ou escritores de um professor que lhes quisesse instruir nos segredos do ofício, sem jamais ter feito uma cirurgia, extraído um dente, cuidado de um doente, apelado a um juiz, cantado em um palco ou publicado um livro? As escolas de administração vêm estabelecendo novos patamares de ensino superior, contratando pesquisadores com treinamento científico e obtendo credibilidade cada vez maior nos círculos acadêmicos.
Mas a qual preço desse triunfo? O próprio objeto de estudo dessas instituições se torna cada vez mais vago e distante – pois é impossível apresentar respostas definitivas para os grandes questionamentos da gestão. Para formar verdadeiros administradores, as escolas deveriam, antes de tudo, perguntar-se: afinal de contas, o que é gerir? Qual o lugar da “gestão profissional” em nossa sociedade? Em todos os domínios da atividade humana, inclusive na arte, o ato de criar é fundamental. Criar, diga-se de passagem, é agir. Antes de tudo, é necessário valorizar a ação e a criação – para só depois começarmos a pensar em teorias. O desafio das escolas de administração é, precisamente, ensinar os futuros administradores a agir. E nós gerimos como nós somos. A administração é uma atividade humana e carrega todas as características dessa condição: suas qualidades e seus defeitos, seus talentos e suas lacunas, suas forças e suas fraquezas, suas habilidades e suas inaptidões. Para ser um bom gestor, portanto, é preciso desenvolver uma percepção justa e realista de você mesmo e dos outros. É preciso enterra o mito do líder ideal e das receitas infalíveis.
O gestor realista se cerca de pessoas competentes nas áreas que menos conhece – pois é aí que mais precisará de conselhos e sugestões.
É aceitar ser nós mesmos diante dos outros, significa que podemos causar desgostos a alguns e mesmo ser o alvo de sua agressividade, sem por isso tombar acabados.
Gerir como se é, é dar-se o direito de pensar diferentemente dos outros, é reconhecer o dever de consultar, escutar e admitir seus erros, de aprender alguma coisa, de recomeçar e de continuar.
Gerir como se é, é gerir seres humanos imperfeitos, como nós mesmos.
Gerir como se é, é também gerir com outras pessoas. A gestão é evidentemente uma profissão eminentemente social. Quanto mais o gestor é ele mesmo, mais ele se conhece, mais ele aceitará que os outros permaneçam eles mesmos enquanto concentram-se nas tarefas a serem executadas ou no serviço a ser prestado.
Gerir como se é, é provar sua autonomia, sua abertura de espírito com seus próprios princípios e os dos outros, com suas crenças e com as dos outros, é achar sua própria maneira de pensar, sua unicidade como dirigente, e, assim, gerir com seu próprio estilo.
Para serem verdadeiros criadores e líderes de opinião, os dirigentes devem deixar de lado modelos que não correspondem as suas realidades e ousar deixar livre a sua imaginação, sua inteligência e seu julgamento clarificador.
Gerir é Criar
II


Autor: Laurent Lapierre
Fonte: Revista Amanhã




Um Método
Querer importar o modelo das ciências exatas para estudar e compreender as ações humanas é um erro grave, freqüentemente repetido nas “ciências humanas”. O ser humano que nós estudamos é uma entidade viva e pensante que age e muda. Ele pesquisa com os pesquisadores. Ele muda a medida que nós o estudamos. A subjetividade e a inter-subjetividade são partes integrantes do “real e do objetivo” no que concerne as pessoas. Para bem compreender, quando tratamos de gestão das organizações e da direção de pessoas, o projeto científico deveria então focar-se na descrição desta realidade, da maneira mais humilde, mais fiel e mais completa possível, tal como se dá em um dado momento.
A gestão é uma questão de contexto e de historicidade, como já foi dito. A história é feita mais por líderes e organizações do que por teóricos que observam e relatam nossos comportamentos e resultados. Para assumir uma direção, é indispensável uma compreensão da complexidade das pessoas e das organizações. Somente quando alguém tem uma melhor compreensão desta complexidade é que se pode simplificar, voltar à essência e conduzir um curso estável através de águas turbulentas e calmas. A gestão é uma prática que se conhece e se aprende na maioria das vezes por experiência, primeiramente dos outros, e posteriormente por nossas próprias experiências.
Trata-se de uma ação que é enriquecida através da reflexão, o que permite, através da ação e da reflexão, construir uma prática muito peculiar. O conhecimento técnico não substitui a experiência. Existe um conceito errôneo que o mesmo modelo ou o mesmo processo de gestão pode invariavelmente ser aplicado não só para todas as empresas norte americanas, mas também em todas aquelas das repúblicas da antiga União Soviética, da Europa, dos países da África ou da América Latina, do Haiti, etc. Será que podemos dizer que todas culturas nacionais e corporativas, que todas as pessoas e condições de vida são as mesmas em todos os lugares?
Será que sabemos que o que era verdade para um país ou organização dez anos atrás é ainda verdade hoje em dia ou que será verdade daqui a dez anos? Claro que não.
No campo da pesquisa da gestão, o método de estudo de casos constitui uma abordagem empírica direta que serve como base parar a produção de documentos e ao avanço do conhecimento. São estes documentos que servem para apoio do processo aprendizagem da prática e de habilidades. O método de casos é baseado na abertura e na receptividade do contato direto das pessoas e de experiências concretas. A preponderância é dada à própria prática, ao estudo rigoroso do fenômeno, onde se examina, caso a caso, a inteligência das ações daqueles que foram bem sucedidos (ou que fracassaram), analisando aquilo que se passa na vida real, para extrair orientações, posições pessoais e novas sínteses que então podem ser colocadas a serviço de suas próprias práticas.
Na formação em gestão, a relação do tipo mestre-aprendiz, os estágios com os grandes especialistas e as classes com os mestres devem ser privilegiadas. O método de casos é um tipo de substituto da realidade do relacionamento entre mestre e aprendiz. Um estudo de caso deve colocar o aprendiz na posição de tomador de decisão e levá-lo a refletir sobre a situação de maneira que vá além das soluções prontas. Queremos especialmente falar de um método de caso que é baseado em narrativas práticas e que produz uma descrição profunda e documentada, uma narrativa que seja a mais fiel possível a realidades que nós queremos conhecer e que constituem o objeto da aprendizagem. Em todos os casos, trata-se de um método de aprendizagem indutivo no qual a pessoa que aprende desempenha o papel principal.
Gerir é Criar

III

Autor: Laurent Lapierre
Fonte: Revista Amanhã

Repensando a Formação em Gestão

Os números, as estatísticas, o uso da linguagem matemática e dos métodos quantitativos são necessários e indispensáveis para uma boa gestão e a concepção de soluções eficazes. Estes aspectos são muito importantes e constituem mais facilmente os objetos da formação. Mas será sempre necessário voltar a essência da gestão: uma práxis, uma filosofia da ação e da criação encarnadas no bom senso. Ai reside o aspecto mais determinante do fato de gerir: fixar metas e objetivos, desenvolver e, usando seu julgamento, assumir a direção de pessoas.
Então, é importante ter em mente que uma organização pode ter um bom produto ou oferecer um serviço de qualidade ao mesmo tempo em que se tem uma gestão artesanal ou que esteja fora das normas reconhecidas, das regras tradicionais da exatidão, dos processos normativos e das teorias populares. A gestão pode parecer deficiente (aos olhos dos especialistas) e, apesar disso, a organização conhecer bastante sucesso. Igualmente, um dirigente pode não ter nenhuma formação superior em gestão e ser exitoso na condução de uma organização. Por outro lado, podemos dificilmente afirmar que o uso de um processo de gestão em moda ou reconhecido, ou que o fato de ser detentor de um diploma outorgado por uma escola de gestão prestigiosa, seja garantia de sucesso...
Isto não significa evidentemente que deveríamos questionar a existência das escolas de gestão. Pelo contrário, uma vez que ela está em contato com a comunidade de negócios, com o mundo da ação, em todos os domínios, a escola de gestão pode oferecer aos que a freqüentam documentar práticas, formar uma rede de conhecimentos, ganhar tempo, desenvolver espírito crítico, formar ou aguçar seu julgamento, aprender a convencer e descobrir seus próprios talentos. Fica por conta do próprio pessoal da universidade (diretores, professores, pesquisadores) permanecer vigilante e de evitar qualquer desvio que venha a romper estas ligações necessárias. Eles têm a responsabilidade de proteger a razão de ser fundamental da sua instituição. A mensagem atualmente transmitida, direta ou indiretamente, para jovens professores formados nos programas de doutorado em gestão é que eles devem produzir um tipo de pesquisa que seja direcionada puramente aos seus colegas professores.
Para avançarem em suas carreiras, eles devem publicar em revistas acadêmicas, aquelas que são classificadas em função do número de vezes que os artigos ali publicados são citados por outros pesquisadores. As crenças internacionais que pesquisam as escolas de gestão impulsionam ainda mais para uma padronização da pesquisa e dos programas de formação. Escondidos em suas torres de marfim, falando somente com seus semelhantes, professores pesquisadores podem chegar a não ter mais conta daquilo que fazem as pessoas que dirigem verdadeiramente as organizações no mundo real, lhes olhando de cima com seus modelos teóricos e normativos, e pior ainda, menosprezando-lhes. Não será surpresa então ver as escolas de gestão isolarem-se do mundo da ação e caírem em uma crise de legitimidade.
Rejeitando os Modismos em GestãoA gestão, como a educação e a criação, não é sempre emocionante. Ela contém inevitavelmente sua porção de aspectos, mecânicos, repetitivos, técnicos, rotineiros e monótonos. Mas em sua componente mais crucial, a gestão é necessariamente criação. Ela repousa sobre a imaginação, sobre a inteligência do que deve ser feito para produzir os resultados em equipe. As empresas que tentam mudar a cultura organizacional para “adotar” uma mais a moda, baseada ou fabricada a partir de modelos prontos ou de receitas mágicas, mesmo com a melhor boa vontade das direções de recursos humanos, se arriscam a conhecer um sucesso relativo e breve.
A inteligência própria das ações precisará, sempre e ainda, ser descoberta, descrita e difundida tanto pelos praticantes e aprendizes de gestor, bem como por todos aqueles que aspiram lhe ensinar. Em gestão, devemos sempre estar vigilantes para oportunizar um espaço maior para o bom senso, para o julgamento e para a criação! Os teóricos devem permanecer a escuta e observar a experiência prática da gestão se desejam que suas reflexões sejam pertinentes e levadas a sério. As escolas de gestão devem assumir com urgência um verdadeiro papel de liderança neste sentido e formar para a liberdade de pensar, de criar e de gerir.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

16/10/2008 15:22



Agricultura familiar responde por 70% dos alimentos do País


A agricultura familiar ganha destaque pela participação significativa na mesa dos brasileiros; mandioca e suínos são os produtos mais representativos


Agência Sebrae de Notícias



Boa parte dos alimentos que vai para a mesa dos brasileiros tem origem no trabalho de agricultores familiares. Nesta quinta-feira (16), data em que se comemora o Dia Mundial da Alimentação, é importante voltar atenções a esse segmento de destaque no agronegócio brasileiro. Dados da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) apontam que 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são provenientes da agricultura familiar. Números de 2005 indicam que o segmento da agricultura familiar e as cadeias produtivas a ele interligadas responderam por 9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Isso equivale a R$ 174 bilhões em valores daquele ano. Uma participação significativa na geração de riqueza para o País. O levantamento mostra que 82,8% da produção de mandioca são provenientes da agricultura familiar. A produção de suínos vem em segundo lugar com 59%, seguida do feijão (58,9%), leite (55,4%), aves (47,9%), milho (43,1%), arroz (41,3%) e soja (28,4%). O gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae Nacional, Juarez de Paula, destaca que a agricultura familiar é essencial sob diversos aspectos. "Do ponto de vista produtivo, o segmento representa cerca de um terço do agronegócio brasileiro. E, diferentemente do agronegócio voltado para a exportação, geralmente baseado na produção de commodities, em monoculturas com uso intensivo de mecanização e de agroquímicos (fertilizantes e pesticidas), a agricultura familiar é diversificada, mais intensiva em ocupação e menos dependente dos agrotóxicos e dos organismos geneticamente modificados, as sementes transgênicas", diz.AgroecologiaA agricultura familiar também tem espaço de destaque na preservação ambiental. "Esse tipo de agricultura presta serviços ambientais relevantes, como a manutenção das reservas legais e das áreas de proteção permanente e a preservação de nascentes e recursos hídricos, serviços estes que agora começam inclusive a ser remunerados, face às ameaças do aquecimento global e seus impactos climáticos", ressalta Juarez. Segundo o gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae, a importância da agricultura familiar, sob o ponto de vista ambiental, se torna mais evidente quando há a adoção de manejos agroecológicos ou orgânicos. "O Sebrae acredita que a agricultura orgânica é a melhor alternativa de mercado para os agricultores familiares, porque é um mercado que cresce em torno de 40% ao ano, além de ser o que remunera melhor o produto", assinala. A importância de os produtores familiares trabalharem com orgânicos também está relacionada à tendência do mercado consumidor. Cada vez mais, a busca é por alimentos seguros e saudáveis. Para completar, essa produção é mais barata, na medida em que dispensa o uso de agroquímicos. E, também pressupõe menor escala, sendo mais apropriada para a pequena produção. Juarez destaca também que, apesar da crise mundial no setor financeiro e da alta no preço dos alimentos, o governo brasileiro continua apoiando esse segmento. "As políticas públicas têm facilitado o acesso ao crédito para a agricultura familiar, têm incentivado o aumento da produção e oferecido canais de comercialização por meio de programas de compras governamentais. É difícil prever um cenário, mas se essas políticas forem mantidas, o ambiente continuará favorável para a agricultura familiar", avalia. ApoioO Sebrae também participa do apoio ao agronegócio familiar. Na Unidade de Agronegócios da Instituição, há 467 projetos voltados para 14 setores: agricultura orgânica, agroenergia, apicultura, aqüicultura e pesca, café, carnes, derivados de cana-de-açúcar (cachaça, melado, rapadura), floricultura, fruticultura, horticultura, leite e derivados, mandiocultura, ovinocaprinocultura, plantas aromáticas e medicinais.São cerca de 22 mil clientes cadastrados e beneficiados pelos projetos. Só no primeiro semestre deste ano, foram executados R$ 95,7 milhões, sendo R$ 67,6 milhões de investimentos de parceiros e R$ 28,1 milhões de recursos do Sebrae. Os atendimentos à agricultura familiar estão concentrados, principalmente, nos estados da Região Sul e Nordeste. A atuação do Sebrae se dá por meio de parcerias com as principais organizações de representação da agricultura familiar no País, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), a União das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes) e a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol). Dia Mundial da AlimentaçãoA celebração no dia 16 de outubro de cada ano é para comemorar a criação, em 1945, da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). A idéia é sensibilizar a sociedade sobre a difícil situação de pessoas que passam fome e estão desnutridas, promovendo em todo o mundo a participação da população na luta contra a fome. A data foi comemorada pela primeira vez em 1981.
16/09/2008 09:55


Crise ainda afeta pouco o agronegócio

Retomada da valorização do dólar no Brasil eleva a rentabilidade no campo e recoloca as fronteiras agrícolas na produção.



Folha de São Paulo




A crise financeira que abala o mercado norte-americano terá pouca influência sobre o agronegócio brasileiro. É o que acreditam alguns analistas. Outros afirmam que é cedo para uma análise das conseqüências.Em uma coisa analistas e produtores concordam: a alta do dólar em relação ao real dará novo fôlego ao agronegócio, principalmente porque esse setor depende das exportações."Essa crise internacional vai passar ao largo da agroindústria brasileira, comparada a outros setores." A afirmação é de Victor Abou Nehmi Filho, gerente da Sparta, administradora de fundos de investimento. "A maré vai continuar favorável às commodities, embora ainda não seja possível fazer muita festa", afirma.A análise de Nehmi se baseia em duas pontas. No que se refere aos grãos, os estoques continuam baixos e a demanda dos países emergentes vai continuar. Portanto, mesmo com a recente saída dos fundos de investimento do mercado -o que derrubou os preços das commodities-, ele acredita em uma parcial recuperação.Os preços não voltam aos picos atingidos, mas ficam em patamares intermediários: US$ 6 por bushel de milho (25,4 quilos) e US$ 12,50 por bushel de soja (27,2 quilos).Já as commodities de consumo de países ricos, como suco de laranja, café e açúcar, podem sofrer maior influência dessa crise financeira, principalmente se ela gerar queda de renda. O Brasil lidera as exportações desses produtos.
PreocupadoJá Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba, está preocupado. Dos três itens que seguravam os preços elevados no primeiro semestre, um já deixou de dar esse suporte: os fundos de investimento.Os estoques se mantêm baixos, mas ainda há dúvidas sobre o que vai acontecer com a renda. O agronegócio brasileiro precisa ficar de olho na economia asiática, diz Muraro.O comércio mundial, que girava com taxa de alta de 15% ao ano, já está em 12%. "É preciso toda a atenção, também, ao consumo dos países ricos." Se a demanda cai nos EUA, afeta o crescimento da Ásia e reduz a renda por lá, diminuindo a procura por commodities.A crise internacional está provocando uma elevação interna do dólar e uma queda nos preços internacionais do petróleo. Haroldo Galassini, presidente da Coamo Agroindustrial Cooperativa, diz que, se concretizada, essa tendência pode trazer alívio a médio prazo para os produtores.Já a alta externa do dólar, que eleva os preços mundiais das commodities, pode ter um efeito limitado. Galassini lembra que grande parte das transações com a Europa é feita em euro, que está em queda em relação ao dólar.Nehmi concorda com Galassini e diz que, quanto maior a subida do dólar no mercado interno, maior é a remuneração do produtor. "Os custos dos produtores são em reais e o faturamento, em dólar." A questão é até quando o governo vai deixar o dólar subir, diz Nehmi. Para segurar os custos de inflação, ele acredita que o governo colocará R$ 2,10 como limite.Muraro diz que agricultura é câmbio e foi a valorização do real que provocou a crise agrícola. Agora, a valorização da moeda dos EUA, se concretizada, elevará a renda no campo. Estudos da AgRural, da qual é analista, indicam que, com o dólar a R$ 1,60, a rentabilidade dos produtores de soja seria de 6% na safra 2008/9 em Mato Grosso. Com o dólar a R$ 1,80, a rentabilidade sobe para 25%.No Paraná, o dólar a R$ 1,60 gera rentabilidade de 40%. A R$ 1,80, o ganho vai a 59%.Um dos efeitos da queda do real será a recolocação das fronteiras agrícolas no processo produtivo. A rentabilidade maior na produção compensará os altos custos de logística.